Reunião de professores… debate-se possíveis soluções para alunos com problemas.
O tema em pauta é Rogerinho, aluno do quinto ano.
Para a professora Isaura, seu caso indica autismo. É aluno distante, apático, não anota lições da lousa, não faz tarefas de casa. Ainda que advertido, sorri encabulado, promete mudar, mas continua sempre o mesmo…
– Para mim, comenta o professor Paulo, o caso de Rogerinho é de déficit de atenção…. Completou:
– Eu acho que esse menino não tem nada de autista, mas enquanto seus colegas se apegam as tarefas e acompanham as explicações sintetizadas na lousa, fica desligado, distante, pensando sabe-se lá o quê…. Essa criança não tem condições de acompanhar os colegas e jamais passará do quinto ano…
– Discordo.
Comenta a professora Mercedes. Creio que o problema de Rogerinho é de dislexia. A criança possui dificuldade na compressão das palavras. Não as escreve com clareza, troca letras e não consegue ler corretamente as sentenças mais simples que escrevo na lousa…
Horas depois. Reinicio das aulas, mas o tema “alunos com problemas” persiste.
Por brincadeira, um dos professores, resolve perguntar para um Inspetor de Alunos, servente da limpeza, quando necessário:
E o senhor, “seu” Walter. O que acha desse Rogerinho?
Não hesitou. Respondeu na hora:
– Creio que o problema de Rogerinho é outro. Como sabem, sou míope. Dias atrás fiquei no fundo da sala ao seu lado e tirei meus óculos. Não enxerguei nada. Nada compreendi. Limpei-os bem e emprestei para garoto. Colocou-os e olhou a lousa e sorriu pela primeira vez. Tudo agora aparecia tão claro. Já conversei com seus pais e implorei para marcarem uma consulta no oculista. Dei-lhe uma armação antiga e com as lentes receitadas, será um aluno excelente. Podem acreditar…
Rogerinho nunca mais se transformou em tema para a discussão docentes sobre “alunos com problemas”.