– Papai. Estou com sede, quero um copo com água!
– Aqui está, meu anjo. Agora que voce já matou a sede, por favor, me conte. Se um dia voce estivesse exatamente aqui e tivesse sede, sem ninguém por perto. Como faria para tomar água?
– Ah. Eu subia na cadeira e pegava a água!
– Como? Chegava à altura do filtro e colocava sua boca na torneira?
– Não, papai. Eu levava um copo!
– Excelente; Mas, digamos que não houvesse por perto copo algum?
– Ah, então eu usava uma caneca!
– E uma panela, por acaso, não servia?
– Ah, pai. A panela servia, mas ia ser mais difícil…
Horas depois ou no dia seguinte:
– Mamãe, estou com fome. Você não poderia fazer uma omelete para mim!
– Claro que sim meu amor. Estava exatamente pensando nisso agora. Mas, enquanto preparo, por favor, me fale. Se voce tivesse que ensinar ao papai como fazer a omelete, como explicaria?
– É fácil, mamãe. Eu diria a ela para quebrar um ovo!
– Quebrar um ovo, meu bem. Como? Com um martelo?
– Não mamãe, não seja chata. Claro que ele quebraria um ovo no prato…
– Ah entendi! Ele colocaria um ovo sobre a mesa e bateria com força um prato em cima?
– Não. Não e não mamãe. Ele bateria com o ovo, bem devagarzinho na beirada do prato?
– Parabéns querida. Você é muito inteligente. Mas, e depois…
Para quem ouve esses diálogos, apenas a doçura de um desafio para crianças de quatro a seis anos. Diálogo descompromissado entre criaturas que se amam e admiram.
Para educadores e que conhecem os mistérios maravilhosos das árvores dos neurônios cerebrais uma conversa plena de desafios, ousadias ao pensamento. Um caminhar por estímulos ao apensamento operacional. Claro que não é necessário que a criança corra o risco do tombo ao subir na cadeira ou a aventura perigosa do fogão, mas é essencial que desafios dessa natureza sejam propiciados sempre sem excesso, pois estimulam a mente, exercitam experimentos, constroem e exploram mecanismos neurais de inteligência e criatividade.
Repare que os exemplos acima podem se multiplicar indefinidamente, não para serem usados até a tortura do enfado, mas para uma ou algumas vezes por dia, provocarem pensamentos operacionais e instigarem as inteligências. Qual o preço de atitudes como essas que a prática aos poucos transforma em saudável rotina?
Impossível quantificar. Não há preço algum, despesa nenhuma. Mas, se não existe preço, existe valor imenso, incomensurável. Pois ao instigar o cérebro infantil se ensina a pensar, se anima as inteligências.
Não existe herança maior para o futuro de uma vida que a ação inteligente de adultos que fazendo uso dessa admirável ferramenta, estão estimulando a mente, acordando sinapses, provocando operações cerebrais. Antes de tudo são estratégias que materializam o sentimento do cuidar, o despertar do amor.