A primeira iniciativa de Mafalda ao assumir aquela turma de primeiro ano de Ensino Médio foi perguntar se todos, mesmo que compartilhando com amigos, dispunham de meios de consulta ao Google e ao Facebook. A resposta não a surpreendeu. Não apenas tinham essa possibilidade como era seguramente a coisa que diariamente faziam. Com a resposta desejada, explicou seu método de trabalho, alertando-os que:
- O resultado do desempenho bimestral de cada aluno seria aferido por prova única no estilo ENEM, mas principalmente por sua participação em aula;
Estava agora formando grupos de maneira aleatória e, dessa maneira, pelo menos em cada bimestre os alunos deveriam se integrar em equipes de cinco a seis colegas denominados por uma cor. Explicou que em uma sociedade em que todas as atividades profissionais são feitas em grupos, que não mais se justificaria a individualidade da sala de aula convencional;
- Essa participação somente seria satisfatória se antes da primeira aula da semana tivessem consultado no Facebook a “lição” obrigatória que propunha. Essa lição poderia ser resolvida individualmente, mas se completaria com a troca de idéias, presencialmente ou online, com os colegas de sua equipe;
- Essa lição semanal seria apresentada na tela em duas páginas e constaria de textos, problemas, ilustrações, algumas vezes um vídeo breve ou sugestões de consulta ao Google ou mesmo a Wikipédia;
- Concluída essa etapa da lição caberia aos alunos reflexões, observações e pesquisas sobre o relacionamento interdisciplinar dos temas propostos, portanto da transferência dos conteúdos alcançados para as demais disciplinas estudas na série;
Para realizar a lição a contento seria indispensável ao aluno e sua equipe o uso de algumas competências básicas como “identificar linguagens”, “compreender e construir conceitos”, “saber selecionar alternativas apresentadas”, “capacidade de elaboração de propostas e argumentação” e uso de habilidades operatórias diferentes como “analisar”, “sintetizar”, “julgar”, “comparar”, “localizar no espaço e no tempo”, “criticar”, “interpretar”, “conceituar” e, progressivamente outras que aprenderiam. Em caso de dúvidas que não hesitassem de enviar-lhe uma mensagem, pois reservava um pequeno tempo semanal para esse atendimento;
- Após a conclusão da lição esta necessitaria transformar-se de lição eventualmente individual em lição grupal conquistada através do debate, pessoal ou presencial, com os colegas;
- Todas as aulas se transformariam em algo como um “laboratório de conclusões e debates e relatos de experiências” e com a sua intervenção a transformações de respostas grupais em resposta única e conclusiva. Isso alcançado, se buscaria a relação entre os temas apreendidos com as notícias diárias, suas experiências relacionais e da presença dos conteúdos no cotidiano da família, do esporte, do viver que a cada dia mais os desafiava.
Explicou que o empenho com o qual se dedicariam na solução dessas lições seria definitivo e que, dependendo do mesmo, aplicaria a prova por ser obrigação regimental, mas que os próprios alunos poderiam se auto avaliar e aferir a própria nota.
Assim prometeu e assim passou a fazer. É verdade que se cansava bem menos que seus colegas, mas não conhecia o sentido de “indisciplina” e a chegada das provas do ENEM era esperada com a gostosa ansiedade de colocar nas mesmas o que em sala de aula haviam em cada aula vivenciado.